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Imagem da autoria de Tati Figueiredo |
Oi gente, o post de hoje é especial para você que assistiu ao filme Interstellar
e quer resolver as suas dúvidas. Se você ainda não assistiu ao filme,
recomendo ler o meu post Interstellar: Análise Crítica – SEM SPOILERS (é só
clicar que vai abrir em outra guia). Não recomendo que leia este post aqui antes de
assistir ao filme porque está cheio de spoilers (inclusive sobre o final) e
provavelmente você não vai entender muitas coisas.
O texto foi quase que totalmente baseado no post do blog Screen Rant e um
pouquinho (beeeeem pouco) no post do blog Pop Watch. Se você sabe ler em
inglês, super recomendo esses dois blogs (principalmente o primeiro citado, que
é mais completo). Quem não lê em inglês, pode até tentar traduzir os textos,
mas a tradução pode não ficar boa. Então, vale a pena ler o meu post!
1. Entenda o começo do filme (relacionando com o final) e os planos A e B
No começo do filme, quando Cooper (Matthew McConaughey) encontra o
esconderijo secreto da NASA, os cientistas explicam para ele que se trata de um
projeto (secretamente financiado pelo governo americano) para encontrar um novo
planeta para os seres humanos, já
que a Terra está sendo devastada por pragas e a agricultura está cada vez mais
insustentável.
O plano era ir para
outra galáxia em busca de outro planeta habitável, o que causou estranheza em
Cooper, uma vez que chegar a outra galáxia levaria anos e os seres humanos não
podiam esperar tanto. O professor Brand (Michael Caine), porém, revela que uma
civilização desconhecida, a que se referem como “They” (em português, significa “eles”),
havia criado um “wormhole” (traduzindo, significa “buraco de minhoca”) perto
de Saturno, que funciona como um atalhado para outra galáxia, permitindo chegar
nesta de maneira bem mais rápida.
Os cientistas também revelam que, anos atrás, a NASA enviou treze
astronautas para essa outra galáxia (através do “wormhole”) com a missão de
encontrar um planeta habitável para os seres humanos. Cada astronauta foi
enviado a um planeta diferente e, ao chegar em seu planeta, deveria ser
instalado um sinalizador. A NASA não comunicava diretamente com os astronautas,
mas conseguiu rastrear os sinalizadores por quase uma década. Atualmente, porém,
apenas três permaneciam ativos.
A
missão agora era a de descobrir o que aconteceu com os três astronautas e
coletar o máximo de material possível para analisar qual planeta possui melhores
condições para a vida humana. O professor Brand explica para Cooper que a NASA
tinha dois planos para a sobrevivência da raça humana:
Plano
A) Enquanto a Equipe Endurance (a equipe de cientistas viaja para o espaço
em uma espaçonave chamada Endurance) estivesse fora, tentando cumprir sua
missão, o professor Brand iria continuar trabalhando em um equação complexa.
Uma equação que, se resolvida, iria permitir que os seres humanos adquirissem
um conhecimento avançado sobre a física dimensional e sobre a gravidade e,
assim, a NASA seria capaz de lançar uma enorme estação espacial (“carregando”
os seres humanos sobreviventes) no espaço. A própria instalação secreta
encontrada por Cooper e Murph no começo do filme não é apenas uma estação de
pesquisa da NASA. É um verdadeiro ponto estratégico para a construção da
estação espacial.
Plano B) Caso o professor Brand
não conseguisse resolver a equação e/ou a Equipe Endurance levasse muito tempo
tentando completar a sua missão, a NASA já havia preparado um banco de
embriões humanos fertilizados que seriam usados para garantir a sobrevivência
da humanidade, caso o Plano A não desse certo. Sendo assim, as gerações futuras
não seriam limitadas à reprodução entre os membros da Equipe Endurance. Nesse
cenário, a equipe iria se instalar no planeta mais habitável possível e criaria
a primeira geração de embriões. E, assim, cada geração posterior iria ajudar a
criar um novo conjunto de embriões (além de se reproduzirem naturalmente).
Em
um momento posterior do filme, descobrimos que o professor Brand nunca
acreditou que o Plano A fosse possível. A verdade é que ele já tinha resolvido
a equação há anos antes, mas o resultado não seria capaz de salvar os seres
humanos que estavam na Terra. Ele apenas fingiu acreditar que o Plano A fosse possível
para conseguir fazer com que líderes mundiais se reunissem e trabalhassem juntos
com o objetivo de criar a infraestrutura necessária para que o Plano B desse certo.
Brand sabia que as pessoas não iriam cooperar para salvar a humanidade se não
incluísse salvar a si mesmas e a seus familiares.
Depois
de descobrir que o Plano A era uma farsa e depois das visitas desastrosas a
dois dos planetas, Cooper e Amelia Brand (Anne Hathaway) se comprometem em
fazer o Plano B dar certo e planejam a ida ao terceiro (e último) planeta, onde
o astronauta Wolf Edmonds (com quem Amelia já teve um relacionamento amoroso)
ainda enviava sinais positivos. Para chegar ao planeta, eles se aproveitam de
um buraco negro próximo (apelidado de Gargantua) para arremessar o Endurance em
direção ao planeta de Edmonds, o que economiza tempo e combustível. Quando
chegam perto de Gargantua, Cooper lança TARS (o robô ajudante da equipe)
para o centro do buraco negro, na última esperança de que o robô fosse capaz de
captar dados que poderiam ajudar a NASA a encontrar uma solução diferente (da
encontrada por Brand) para a equação.
Depois
de lançar o robô em direção a Gargantua, Cooper sacrifica a si mesmo para
diminuir o peso no Endurance e, assim, fazer com que Amelia tivesse maiores
chances de chegar ao planeta de Edmonds e iniciar o Plano B. Ao se desligar do
Endurance, Cooper se lança no espaço, acreditando ser o seu fim, mas, nesse
instante, é “puxado” para dento do The Tesseract – que é uma singularidade gravitacional
do “wormhole” onde as leis do espaço e do tempo não têm limites – criado pela civilização desconhecia
a que se referem como “They”.
2. Mas, afinal, quem são
esses seres (chamados de “They”) que estavam ajudando tanto a humanidade?
Cooper
e os outros cientistas da NASA acreditavam que se tratava de uma raça
extraterrestre (ou supernatural) evoluída que havia descoberto como manipular
dimensões e, por alguma razão, decidiu ajudar a humanidade a escapar da Terra. O
professor Brand acreditava que esses seres mandavam mensagens em binário e
criaram o “wormhole” para salvar a raça humana da extinção.
Porém,
como é revelado no filme, esses seres eram, na verdade, duas entidades separadas
(mas relacionadas):
-
Seres humanos do futuro que haviam aprendido a manipular o tempo e o espaço;
-
Cooper tentando se comunicar com a sua filha de dentro do Tesseract, que, por
sua vez, foi construído para ele pelos seres humanos do futuro.
Sendo
assim, boa parte dos fenômenos que a NASA acreditava ter sido obra dos seres
desconhecidos era, na verdade, atos praticados por Cooper no futuro. Quando ele
sacrifica a si próprio, se lançando no espaço, acaba sendo “puxado”, como já
dito antes, para dentro do Tesseract.
Sabendo
de seu próprio passado – especialmente sobre os acontecimentos que levaram a
sua salvação (e fuga da Terra) – os seres humanos criaram o Tesseract em algum
momento em um futuro distante, usando seus conhecimentos avançados sobre a
física dimensional, manipulando o espaço-tempo para colocar o Tesseract no
passado.
Uma
vez que Cooper e Murph são lembrados como sendo os salvadores da humanidade, os
seres humanos evoluídos – que conseguem observar passado, presente e futuro –
criam o Tesseract para Cooper, de forma que ele pudesse se comunicar com a sua
filha no passado e transmitir os dados que TARS (o robô) havia coletado de
dentro do buraco negro.
3.
Entenda a questão do espaço-tempo e da relatividade
A questão do espaço-tempo e da relatividade foi bem
exemplificada no primeiro planeta visitado pela Equipe Endurance. No geral, o
tempo no nosso lado do “wormhole” passa mais rápido que o tempo no outro lado.
E, devido a anomalias gravitacionais provocadas por um buraco negro (Gargantua)
próximo, o tempo passa ainda mais devagar (quanto mais perto do buraco negro,
mais devagar o tempo passa). Por estar próximo a Gargantua, o tempo no planeta
da astronauta Miller passa bem devagar: para cada hora passada no planeta, sete
anos se passam na Terra. Sabendo disso, Cooper planeja que a visita ao planeta
seja o mais rápido possível, mas, por uma série de acontecimentos, a visita demora
mais que o previsto, o que custa décadas de anos na Terra.
Mas
por que a Equipe Endurance visitou o planeta de Miller para começo de conversa?
É que, por anos, a NASA recebeu sinais positivos vindos de Miller. Porém, como
descobrimos depois, o que se acreditava ser anos de sinais positivos, na
verdade foram apenas minutos para Miller (que foi morta por uma onda momentos
depois de aterrissar). Tudo isso devido ao efeito provocado pela proximidade do
buraco negro, que fez com que o tempo no planeta da astronauta passasse bem
mais devagar que o tempo na Terra.
Depois
de conseguir sair do planeta de Miller e voltar para o Endurance, a equipe
reencontra Romilly, que havia ficado na nave para colher dados e fazer
pesquisas. Como a espaçonave estava mais distante de Gargantua, o tempo que a equipe permaneceu no planeta de Miller correspondeu a vinte e três anos para
Romilly (que esperou sozinho na espaçonave). Na Terra, o tempo também passou
mais rápido e, ao receber vídeo-mensagens dos familiares, isso é claramente
perceptível: os filhos de Cooper, Tom e Murph, agora são adultos.
Na
medida em que a equipe se distancia do buraco negro, a desproporção do
espaço-tempo diminui e, ao chegar ao planeta do astronauta Mann, a urgência é
bem menor (apesar de terem que enfrentar outro problema: o astronauta, perturbado
pela solidão, ficou enviando falsos sinais positivos sobre o planeta para que
fossem resgatá-lo).
Outro
efeito expressivo da gravidade no espaço-tempo é o que acontece no Tesseract.
Dentro desta, a gravidade trespassa para outras dimensões no espaço e no tempo,
permitindo que Cooper, empurrando livros da estante de Murph, mandasse uma
mensagem (“STAY”, que significa “fique”). Também permite que Cooper comunique,
espalhando poeira pelo chão (em binário), as coordenadas da estação espacial da
NASA para a versão passada de si mesmo. E, mais importante, permite que Cooper
manipule os ponteiros do relógio de Murph, passando, assim, os dados (que TARS
havia adquirido dentro do buraco negro) em código morse. Depois, traduzindo os
dados codificados, Murph consegue a informação necessária para fazer com que o Plano A desse certo.
4.
Como o tempo passa para Cooper dentro do Tesseract e como ele pretende
reencontrar Amelia?
Para
encontrar a resposta, é só usar a mesma teoria presente ao longo do filme. Tendo
em vista que o tempo passa mais devagar perto do buraco negro (devido à
distorção gravitacional por ele provocada), Cooper leva apenas segundos para
sair do Tesseract (na perspectiva dele), mas leva décadas para a humanidade.
Para entender melhor, é só pensar no seguinte: se a relação do tempo no planeta
de Miller era de uma hora para cada sete anos na Terra, a proporção seria drasticamente distorcida dentro do Tesseract. Sendo assim, enquanto que, para os seres
humanos, levaram-se décadas para que TARS e Cooper fossem encontrados flutuando no espaço, para eles, estavam
de fora por meros segundos até serem resgatados.
E
uma coisa importante que deve ficar claro é que, quando Cooper sai do
Tesseract, ele é enviado de volta para o outro lado do “wormhole”. Nós sabemos
disso porque, na passagem, ele se encontra com a versão passada dele mesmo (quando
o Endurance estava passando pelo “wormhole”) e dá um aperto de mão em Amelia.
Sendo assim, a desproporção no espaço-tempo e o fato de voltar ao sistema
solar permite que Cooper se encontre com Murph. Esta, vivendo no lado do “wormhole”
onde o tempo passa mais rápido, está agora com mais de cem anos de idade.
Sabendo que Cooper não tem motivo para permanecer na estação espacial (uma
vez que o seu filho Tom está presumidamente morto e Murph em breve se juntará a
ele), Murph lembra seu pai que, do outro lado do “wormhole”, Amelia está apenas
preparando para iniciar o Plano B no planeta de Edmonds. Na cena de Amelia no
planeta, entende-se que, apesar do planeta ser habitável, o astronauta Edmonds
não sobreviveu (por algum motivo desconhecido). Sendo assim, Amelia estava sozinha no local da
colonização.
Cooper, então, entra em uma nave sabendo que, mesmo tendo passado décadas
para os seres humanos na Terra (ou melhor, na estação espacial), o tempo do
outro lado do “wormhole” está passando muito mais devagar. Sendo assim, é
totalmente possível encontrar Amelia no planeta de Edmonds pouco tempo depois
de Cooper ter sacrificado a si próprio e se lançado no espaço. Nós não sabemos
se Cooper irá de fato encontrá-la, mas há fortes razões para ser otimista de
que os dois vão se encontrar e, juntos, irão preparar a colonização do novo lar
da humanidade.
Então é isso gente, espero que tenham gostado! Não perca o meu post sobre o paradoxo do filme: Paradoxo do Tempo em Interstellar - Possíveis Teorias
Bjs, Tati.